Bloomberg on The Economy, 26 de Junho de 2008. Tom Keene entrevista Nouriel Roubini, professor de Economia na Stern School of Business da New York Univesity, que diz, essencialmente:
1. Os Estados Unidos da América (EUA) já estão em recessão, em resultado da combinação da maior crise imobiliária dos últimos 50 anos, do crunch do crédito e da liquidez e do aumento dos preços do petróleo. Num número importante de outros países existem sinais significativos de abrandamento, se não mesmo de contracção económica, enquanto a inflacção sobe através do mundo; estamos num momento de estagflação light: o princípio da combinação entre inflação e estagnação, que leva a crescimento lento, mais desemprego e inevitável recessão. Os EUA estão em recessão; o Japão entrará proximamente em recessão; um bom terço da Europa entrará em recessão: o Reino Unido, a Espanha, Itália, Portugal...
2. A alta dos preços da energia implica o aumento do preço dos transportes, pelo que já não estamos no mundo plano de que falava Tom Friedman (no já clássico "O Mundo é Plano"). Em muitas dimensões, já estamos num mundo novo. O que tornou o mundo plano foi a cadeia global de fornecimentos. Essencialmente, tornou possível produzir um computador outsorcing a produção de componentes em 100 países diferentes e depois transportá-las para um local e montar as peças nesse local; agora, por causa de preços de transportes mais altos, as coisas passar-se-ão de modo diferente. O Governador do Alabama, por exemplo, já anunciou que está a receber muitas propostas de investimento; e, com ele, muita gente nos EUA pensa que esta alta do preço dos transportes é benéfica porque criará mais emprego doméstico, em detrimento do comércio global. O mesmo crescimento doméstico sucederá em países como a China (1,2 bilhões de pessoas) e na Índia (1 bilhão de pessoas). Isso levará tempo e o choque negativo ainda está para ocorrer.
3. Neste mundo novo a política monetária já não é tão eficaz, porque nasceu um sistema financeiro sombra, que não se baseia no sistema bancário e alargou os spreads interbancários. Hoje, existem toda uma nova série de instituições financeiras que se parecem com Bancos (altamente alavancados, financiam-se no curto prazo e emprestam para o longo prazo) e passaram a ter acesso à janela de liquidez que o Federal Reserve (FED) abriu; a transmissão da política monetária está mais dificultada. Inicialmente, o choque veio dos EUA mas agora transmitiu-se à Europa e o facto de o FED ter facilitado enquanto o Banco Central Europeu (ECB) não o fez, significa que agora há condições monetárias mais estritas na Europa, que levaram a uma escassez de dólares. Pelo que, paradoxalmente, o FED não apenas está a emprestar dinheiro a não-Bancos nos EUA, como também está a emprestar dólares a Bancos estrangeiros. Trata-se de uma enorme mudança na política monetária: os EUA passaram a ser o Banco central do mundo. Centenas de instituições financeiras irão à falência: os spreads deixarão de depender da falta de liquidez, passarão a depender do risco de contraparte, o risco País.
Porque Portugal tem sido Lisboa