Visto da Paisagem

Porque Portugal tem sido Lisboa

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O passado imediato e o futuro que se nos impõe

Os incríveis factos dos últimos dias de 2008 e deste primeiro mês de 2009 vêm admiravelmente descritos num artigo de opinião do actual economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, Olivier Blanchard, publicado em The Economist - (Nearly) nothing to fear but fear itself. O gráfico do índice de volatilidade VIX mostra (quase) tudo o sucedido neste tsunami financeiro com extraordinárias consequências económicas, semelhantes às de uma economia de guerra mundial - permanecendo felizmente (pelo menos para já) a economia industrial e globalizada.

Visto da paisagem, de aqui do Porto, Portugal, apetece acrescentar a estes conturbados factos do final dos anos zero do século XXI, um texto de um livro dos mesmos anos do século XX, editado por F.Lopes, sob o título Guia do Forasteiro no Porto e na Província do Minho, assinado por Gualdino de Campos, que dizia assim:

"Quem desembarcar na estação de Campanhã, na gare da principal linha férrea que serve o Porto, não depara certamente com o flagrante espectáculo de luta pela vida ... e pela mala, como o viajante que se apeia à entrada de Nova York; mas, por mais matinal que seja a hora da sua chegada, verificará que penetra num centro laborioso, activo, entregue às ocupações que lhe asseguram a existência, numa labuta não só de sol a sol, mas mais ampla ainda, o que constitui o mais nobre brasão dos seus moradores.

Participando nas qualidades das diversas raças que, nas suas migrações, se confundiram e espalharam pela Península Ibérica, o minhoto, o portuense, que vale o mesmo, além de ser extraordinariamente activo, é, positivamente, o que se chama um bom homem, como já disse alguém; e dotado de génio amoroso e do espírito de aventura do tipo céltico que nele predomina, propenso a emigrar, em procura do trabalho e da fortuna, quando, comprimido por circunstancias adversas, não póde encontrar na sua terra a satisfação dos desejos a que a sua fantasia ou ambição o propelem. Operosa e madrugadora, como poucas, é a população do Porto e do Minho, em todos os seus mesteres, honrosa característica de que justamente se ufana".

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A economia da língua portuguesa com o Brasil a caminho do G8

«A crise econômica global pode fazer com que o Brasil suba duas posições no ranking dos países com as maiores economias do mundo, pulando da décima para a oitava colocação. De acordo com os estudos divulgados por uma consultoria britânica, o Centro para Pesquisas Econômicas e de Negócios (CEBR), o PIB brasileiro deve sofrer uma ligeira queda de 2008 para 2009 de US$ 1,7 trilhão para US$ 1,6 trilhão, ultrapassando os PIBs de Espanha e Canadá, fortemente atingidos pela crise.

Além do Brasil, a Índia também ganharia posições. Em 2007 o país era o 12º da lista e no ano que vem deve figurar na décima posição.

De acordo com a consultoria, a Grã-Bretanha deve despencar da quinta para a sétima posição no ranking das maiores economias globais, e do Canadá passará da nona para a 13ª posição.

O estudo do instituto, no entanto, não considera a chamada “paridade do poder de compra”, que ajusta os valores absolutos do PIB de acordo com o custo de vida em cada país. Se este valor fosse incluído na análise, o Brasil já seria a nona economia mundial e poderia aparecer na frente da Grã-Bretanha no ranking de 2009. O CEBR acredita que o Brasil precisaria de apenas dois trimestres com PIB (em dólares) abaixo do registrado em seu pico.

As economias da Grã-Bretanha e da Itália devem ser as mais prejudicadas pela atual crise econômica, segundo o centro, seguidas pela Espanha, Alemanha e pelo Canadá. Os PIBs britânico e italiano devem levar 18 trimestres para retornar ao nível registrado no pico, o espanhol 16 trimestres, o alemão 14 e o canadense 12. Já os Estados Unidos devem precisar de apenas nove trimestres nos quais o PIB ficaria abaixo do seu maior nível já registrado.

Das dez maiores economias atualmente, apenas a China escaparia de uma queda no PIB.

As maiores economias do mundo em 2009 serão (valores em trilhões de dólares): 1º- Estados Unidos (14,57); 2º- Japão (4,80); 3º- China (4,78); 4º- Alemanha (3,40); 5º- França (2,71); 6º- Itália (2,17); 7º- Grã-Bretanha (2,04); 8º- Brasil (1,59); 9º- Espanha (1,57); 10º- Índia (1,35)».

Citado de Portugal Digital.

Visto da Paisagem, a economia da língua forçará uma parceria estratégica (natural, diga-se de passagem) entre Portugal e o Brasil, neste terceiro ciclo da língua portuguesa em que já vivemos. Do que estamos à espera?

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Sistema financeiro mundial precisará de mais 600 bilhões de dólares

«In an outlook note for 2009 Credit Suisse said that next year would be the weakest for GDP growth across the G7 since the end of the Second World War. It added that global growth would not return to trend until 2011 because a number of problems had yet to be addressed.

House prices outside Germany and the US were still overvalued. The US had not completed the massive task of de-leveraging. Credit Suisse thinks this will take three more years. The bank added that European monetary and fiscal policy makers were still behind the curve.

Finally it said that an additonal factor was that "bank lending conditions are extraordinarily tight and we doubt they will ease until another US$200bn to US$600bn of capital has been raised".

That aside, Credit Suisse said the stock markets "have not been so oversold, apart from 1933." Investors were extremely risk averse but directors were buying stocks in their own companies at record levels».

Fonte: Thomson Merger News, 9 Dezembro 2008.

Visto da Paisagem, o Governo e o nosso sistema financeiro vão encontrar dificuldades em sustentar o défice externo aos níveis actuais. Algo terá de ser feito para diminuir a nossa monstruosa dívida externa.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A re-socialização do sistema bancário português

A Lei n.º 63-A/2008, de 24 de Novembro, estabelece medidas de reforço da solidez financeira das instituições de crédito no âmbito da iniciativa para o reforço da estabilidade financeira e da disponibilização de liquidez nos mercados financeiros.

Parece ter sido feita à medida para salvar o Banco Português de Negócios - só que este, entretanto, já foi nacionalizado pela Lei nº 62-A/2008, de 11 de Novembro.

Para que serve então?

Nos termos da lei, o reforço da solidez financeira das instituições de crédito é efectuado através de operações de capitalização das mesmas com recurso a investimento público, a realizar até 31 de Dezembro de 2009.

Ou seja, a Lei nº63º-A/2008, inopinadamente, quase secretamente, acrescenta 4 bilhões de dívida pública aos 20 bilhões que já haviam sido aprovados pela Assembleia da República para garantir a liquidez no mercado interbancário.

Visto da paisagem, assistimos à re-socialização do sistema bancário português, à boleia do défice público relaxado - à custa do futuro de todos os portugueses.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

O Banco de Portugal e a supervisão prudencial

"Para garantir a estabilidade e a solidez do sistema financeiro, de modo a assegurar a eficiência do seu funcionamento, a segurança dos depósitos e dos depositantes e a protecção dos consumidores de serviços financeiros, ao Banco de Portugal foi cometida a função de exercer a supervisão das instituições de crédito.

De acordo com o Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras, compete ao Banco de Portugal acompanhar a actividade das instituições supervisionadas, vigiar a observância das normas que disciplinam essa actividade, emitir recomendações para que sejam sanadas as irregularidades detectadas, sancionar as infracções praticadas e tomar providências extraordinárias de saneamento.

Os instrumentos de supervisão têm por objectivo garantir a estabilidade das instituições e dos valores que lhes foram confiados. Mas, são meros meios preventivos (daí a designação de supervisão prudencial), que não podem substituir-se, portanto, à gestão competente e ao controlo interno eficaz das instituições de crédito e sociedades financeiras, sem esquecer o importante papel desempenhado pelos auditores, internos e externos, das instituições.

O Banco de Portugal procede a um acompanhamento sistemático e contínuo das actividades das instituições de crédito e das sociedades financeiras, recorrendo, para o efeito, a um conjunto de regras prudenciais e de práticas de supervisão (como as inspecções directas). Entre as primeiras cabe salientar a fixação de montantes mínimos para o capital social, os requisitos mínimos de fundos próprios para cobertura do risco de crédito (rácio de solvabilidade) e dos riscos de mercado (resultantes da variação de preços dos instrumentos financeiros e da taxa de câmbio), os limites à concentração de riscos e as regras de provisionamento.

Face a eventuais perturbações graves nas condições normais de funcionamento de uma instituição e de modo a evitar a propagação dessas situações ao resto do sistema (prevenção dos riscos de contágio), o Banco de Portugal pode impor medidas de saneamento. Essas providências extraordinárias são muito diversificadas (desde restrições ao exercício de determinadas actividades até medidas de intervenção directa na gestão, como a designação de administradores provisórios), dependendo a sua adopção concreta da dimensão e gravidade dos problemas existentes. Em casos extremos, o Banco de Portugal tem a faculdade de accionar o processo de liquidação de uma instituição".

O texto anterior foi retirado do sítio do Banco de Portugal. Contradiz a entrevista do Senhor Governador do Banco de Portugal, ontem, pela RTP.

Visto da Paisagem, o sucedido com o Banco Comercial Português, o Banco Português de Negócios e agora o Banco Privado Português indicia incumprimento reiterado por parte do Banco de Portugal da sua função de supervisão prudencial. Nos termos da lei orgânica do Banco de Portugal, compete ao Ministro das Finanças exonerar o Governador do Banco de Portugal em caso de falta grave deste. Ainda não se ouviu o Ministro das Finanças.

sábado, 25 de outubro de 2008

Nacionalizar para depois privatizar...

"THIS summer, when Jim Bunning, a senator from Kentucky, read in his morning paper that the American government had taken control of Fannie Mae and Freddie Mac, he thought he had “woken up in France”. In the weeks since, Western governments have spent hundreds of billions of dollars buying up the banking system. America’s government has given its carmakers $25 billion in soft loans. And Nicolas Sarkozy, France’s president, has floated the idea of a group of European sovereign-wealth funds taking stakes in the continent’s most important firms" - in The State as owner - The Economist, 23 de Outubro de 2008.

Aqui no Visto da Paisagem chamámos-lhe, em 8 de de Setembro de 2008: O triunfo da social-democracia.

Do mesmo modo, perguntá-mo-nos aqui no Visto da Paisagem, em 1 de Outubro de 2008: Que vamos fazer com tantos Bancos intervencionados?

A resposta óbvia é: privatizar. Depois de nacionalizar, o Estado tem que privatizar (sobre os fundamentos desta evidência ver, por exemplo, os argumentos expendidos nos três escritos acima).

A pergunta que agora se impõe é: nacionalizar para depois privatizar; não haverá uma terceira via?

Um princípio de resposta vem, curiosamente (ou não), de Adam Smith: "Consumption is the sole end and purpose of all production; and the interest of the producer ought to be attended to only so far as it may be necessary for promoting that of the consumer." - in Adam Smith (1723-1790), The Wealth of Nations, ed. Everyman's Library, 1991, pg.594.

Uma segunda parte da resposta veio, esta semana, de Alan Greenspan: "He went to admit that the "flaw" in the assumptions he used over the past 40 years were that banks and other financial institutions were best able to protect the interest of their shareholders." - Ver, e.g., The Telegraph.

Visto da Paisagem, entre o socialismo e o liberalismo, o mundo tende para a social-democracia como terceira via.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Um programa para o futuro globalizado

"Whatever else globalization may mean, it means that we are all dependent on each other. Distances matter little now. Something that happens in one place may have global consequences... However local their intentions might be, actors would be ill-advised to leave out of account global factors, since they could decide the success or failure of their actions."

"Nothing can be done to arrest, let alone reverse, globalization. One can be in favor of or against the new planetwide interdependency, but the effect will be similar to that of supporting or resenting the next solar or lunar eclipse."

"The globalization process has thus far produced a network of interdependence penetrating every nook and cranny of the globe, but little else. It would be grossly premature to speak of even a global society or global culture, not to mention a global polity or global law. Is there a global society emerging at the far end of the globalization process? If there is such a system, it does not as yet resemble the social systems we have learned to consider the norm."

"Most important, that planetary dimension has not been matched by democratic control on a similarly global scale. We may say that power has flown from the historically developed institutions that used to exercise democratic control over uses and abuses of power in the modern nation-states. Globalization in its current form means a progressive disempowerment of nation-states and (so far) the absence of any effective substitute."

"A retreat from globalization of human dependency, from the global reach of human technology and economic activities is, in all probability, no longer in the cards. Responses like «circle the wagons» or «Back to the tribal (national, communal) tents» won't do. The question is not how to turn back the river of history but how to fight against its pollution by human misery and how to channel its flow to achieve a more equitable distribution of the benefits it carries."

"An effective response to globalization can only be global. And the fate of such a global response depends on the emergence and entrenchement of a global (as distinct from international or, more correctly, interstate) political arena. It is such an arena that is today most conspicuously missing. The existing global players are singularly unwilling to set it up. Their ostensible adversaries, trained in the old yet increasingly ineffective art of interstate diplomacy, seem to lack the ability and the necessary resources. New forces are needed to reestablish and reinvigorate a truly global forum adequate to the globalization era - and they may assert themselves only through bypassing both kinds of players."

Zigmunt Bauman assim o escreveu (citado de "Does Ethichs Have a Chance in a World of Consumers?", Harvard University Press, 2008, pgs.71-77).

Visto da paisagem, é todo um programa com futuro.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O Governo e os empates

Vem aí uma nova conferência monetária e financeira global, como a de 1944 em Bretton Woods. Tal como antecipáramos, aqui no Visto da Paisagem, no dia 8 de Outubro de 2008.

Na passada segunda-feira, dia 13 de Outubro de 2008, já veio o governo britânico levantar essa bandeira, vindo agora seguido pelos demais líderes europeus (ainda não se ouviu o nosso Governo): Ver.

Não tendo seguido os nossos conselhos públicos (Ver: O fim do dinheiro tal como o conhecíamos), o nosso Governo perdeu uma boa oportunidade de brilhar mundialmente, mostrando liderança realista e adequada a uma pequena economia que se quer dinâmica.

Visto da Paisagem, o nosso Governo parece-se cada vez mais com a selecção nacional de futebol: só empates.

sábado, 11 de outubro de 2008

Crises periódicas a pedirem estadismo global

"Deprive a person of oxygen and he will turn blue, collapse and eventually die. Deprive economies of credit and a similar process kicks in. As the financial crisis has broadened and intensified, the global economy has begun to suffocate. That is why the world’s central banks have been administering emergency measures, including a round of co-ordinated interest-rate cuts on Wednesday October 8th. With luck they will prevent catastrophe. They are unlikely to avert a global recession". - The Economist.

A história traz-nos a memória do dejá vu:...1837, 1857, 1873, 1907, 1919, 1929, 1939, 1945... e o resto já recordamos nós: 50's, 60's, 70's, 80's, 90's e agora a década do zero com números novos mas já velhas crises financeiras como 2001, 2002, 2003.

Imperdível o estudo publicado, em Abril de 2008, sob o título "This Time is Different: A Panoramic View of Eight Centuries of
Financial Crises"
, por Carmen M. Reinhart e Kenneth S. Rogoff. A partir desse estudo retira-se que, entre os anos 1300–1799, Portugal só por uma vez deixou de cumprir as suas obrigações creditícias com o exterior (external credit default): no ano de 1560; tão bom comportamento não mantivemos no século 19 (incumprimentos nos anos 1828, 1837, 1841, 1845, 1852, 1890). Tendo recuperado credibilidade externa no século 20 (apenas notada pelo estudo a crise bancária de 1920), esperemos que assim continue pelo século 21.

"The urgent task is to prevent a grave multi-country banking crisis from becoming a global economic catastrophe. That ought not to be too hard. Thanks to the growing importance of emerging markets, the world economy has become more resilient to trouble in its richer corners. Capital is plentiful outside Western finance. Now that commodity prices have tumbled, the rich world’s central banks have plenty of room to cushion their weakened economies with lower interest rates. And although public-debt burdens are already heavy, notably in Italy, Europe’s governments, like America’s, have enough public funds to prevent a capital-starved banking system dragging their economies down". The Economist.

Visto da paisagem, o mundo pede uma reformulação da legislação global. A velhinha legislação internacional já não serve. Estamos todos no mesmo barco, mas nem todos participamos na escolha do rumo e dos timoneiros.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Alta-Baixa-Alta-Baixa-... Onde está o Governo de Portugal?

Mais uma sexta-feira em baixa nas Bolsas globalizadas. Onde está a novidade?

No século 19, José Ferreira Borges - o primeiro advogado-economista português - escreveu (in Dicionário Juridico-Comercial, verbete fundos publicos, 1839, pgs.223 e 224, adaptado para melhor compreensão):

- "Da especulação nasceu o jogo de fundos. Este jogo é extremamente variado; porém tudo se reduz a uma coisa, a uma aposta. Ponhamos um exemplo. Pedro tem algumas libras e persuade-se que cinco mil de redito, que hoje se vendem por cem mil, virão a vender-se por cento e quarenta mil no curso ou fim do mês. Paulo tem também algumas libras e persuade-se que cinco mil libras de redito, no curso do mês, não valerão mais do que noventa e seis mil. O primeiro joga pela alta, o segundo pela baixa dos fundos: apostam um contra o outro. Paulo vende a Pedro as cinco mil libras para lhe serem pagas na razão das cem mil libras. Nesta época faz-se o que se chama na Praça a liquidação. Se o fundo da especulação subiu de preço, Pedro diz a Paulo: vós me vendestes cinco mil libras pagáveis na razão de cem mil de tais fundos: segundo o curso eu posso vender as cem mil por cento e quatro mil; pagai-me estas quatro mil, e eu vos dispenso de me entregar os fundos. No caso inverso procede o inverso... Parece-se exactamente com uma partida de cartas, em que se não pode ganhar sem que outrem perca".

O Pedro, o Paulo e as demais pessoas que jogam fundos nos mercados de capitais (hoje em dia à aposta chama-se investimento) sabem que à alta segue-se a baixa e assim sucessivamente. Sempre. Quando as Bolsas baixam ninguém está a dar acções. Há quem esteja a vender e quem esteja a comprar. Pedro vende em baixa, Paulo compra em baixa (porque especula na alta). Ninguém dá nada a ninguém. Uns perdem, outros ganham.

Ademais, os Pedros e os Paulos do exemplo sabem que os índices das principais Bolsas de acções estiveram recentemente, há nem muitos anos, substancialmente mais baixos do que estão hoje:

- Dow Jones na casa dos 7.200, em Outubro de 2002;
- Nasdaq na casa dos 1.100, em Outubro de 2002;
- FTSE 100 na casa dos 3.200, em Março de 2003;
- X-DAX na casa dos 2.200, em Março de 2003;
- CAC 40 na casa dos 2.300, em Março de 2003.

O que dá margem para muita especulação adicional.

É um jogo para entendidos. Os governos sabem-no. Por isso existe regulação.

Quem não sabe é o Povo, intoxicado por informação inflamatória ou meramente dramática. Com a necessidade de vender publicidade sentida pelas televisões, as rádios e os jornais, e "sangue" para o efeito, o caso muda de figura: o Povo entra em depressão. E, isso sim, é mau, mesmo mau, muito mau...

O efeito de contágio que este ruído produz na economia, a do trabalho, produção e consumo das coisas do dia a dia, aliás a de todos (tanto dos que jogam fundos nos mercados de capitais como a daqueles que tentam a sorte nos euromilhões), é que impunha a intervenção do Governo.

Não para criar mais dívida - que é o que o Governo ontem veio anunciar, em termos práticos, com o prospectivo aumento do endividamento público por relaxamento dos limites do défice das contas públicas no próximo Orçamento de Estado.

A intervenção do Governo impunha-se para apartar as águas, impondo a sua presença na imprensa para se dirigir sobretudo à economia real, com palavras de realismo, clarificação, explicação - como fazem os pais aos filhos perante o desconhecido que os assusta.

Visto da paisagem, parece que o Governo de Portugal não diz aos portugueses aquilo que urge para tranquilizá-los e não temerem o futuro. Economia não é futebol. Porque será que os nossos governantes não o repetem até à exaustão na televisão e na rádio? Não o fazendo o Governo, quem o fará?

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O fim do dinheiro (como o conhecíamos)

Certamente não teremos de voltar a andar carregados de conchas... algo novo e com valor de troca surgirá certamente para sustentar a moeda e crédito; mas o dinheiro, tal como o conhecíamos depois dos acordos de Bretton Woods de 1944 (e desacordos de 1972 e 2001), acaba de acabar.

Falharam os dois motores ao mesmo tempo (o sistema bancário e o mercado de capitais), o modelo sobre-alavancado e sub-regulado em que vivemos não serve, colapsou, e algo novo terá de surgir para que voltem a ter valor fiduciário as promessas de pagamento que os governos, as empresas e os consumidores circulam nas suas trocas.

Não será repentinamente, mas certamente assistiremos à criação de um novo paradigma de valor (com a redefinição dos papéis dos sectores público e privado). Esperemos apenas que alguns líderes europeus não cometam o mesmo erro de pensarem que se pode regular a nível regional aquilo que é global.

Visto da paisagem, impõem-se uma nova conferência monetária e financeira global: como a de 1944, em Bretton Woods, sob a égide das Nações Unidas. Não ficava mal a um país pequeno mas que se quer dinâmico, digamos Portugal, levantar essa bandeira em primeiro lugar.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A Lisboa dos pequeninos

Mais um fim-de-semana de trabalho para o mundo globalizado, mais uma segunda-feira negra para os mercados financeiros e onde estão o Governo e a imprensa de Lisboa?

O primeiro-ministro estava num comício partidário, em campanha para as eleições regionais dos Açores. Quando falavam em conferência de imprensa os chefes de governo do agora denominado G4 (Alemanha, França, Reino Unido e Itália), ao mesmo tempo e de então para cá, do nosso Governo recebemos um incompreensível silêncio. Nem uma palavra, nem uma explicação.

Da nossa imprensa lisboeta (infelizmente, não há outra com dimensão nacional), entorpecida pelo futebol e pelo cientismo político cortesão, vem a cobertura dos verdadeiros governantes de Portugal: face ao silêncio dos nossos políticos, por ausência generalizada de interesse em amplificar ideias de estadismo (que não vende publicidade), são os dirigentes desportivos quem emparelha com os dirigentes do G4 e com os cómicos do Zé Carlos.

Entretanto, os Bancos sofrem uma crise de liquidez; as Bolsas na Ásia, Europa e América caem em queda livre; os EUA já admitem mais 200 bilhões de dívida, em cima dos outros 700; o Euro desvaloriza... Enquanto o iene valoriza (Ver) - quando já se sabia que os japoneses têm liquidez e vêm às compras no mundo ocidental (Ver).

Visto da paisagem, o Governo de Lisboa está distraído. Soberania é verbo de encher constitucional. Se queremos encontrar governação correspondente aos nossos destinos pessoais e como País teremos de olhar para Berlim, Paris, Londres ou Roma. Já não é Lisboa quem nos governa. Lembra Coimbra, o Portugal dos pequeninos.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Que vamos fazer com tantos Bancos intervencionados?

A onda de nacionalizações e intervenções estatais em instituições financeiras estendeu-se por todo o mundo ocidental desde o triunfo da social-democracia que proclamámos em 8 de Setembro de 2008 Ver.

Utilizando o top 1000 mundial de Bancos (publicado anualmente pela revista "The Banker", classificando-os por capitais próprios), em 2007 (edição de Julho de 2008), eram privados e são agora públicos (no duplo sentido de pertencentes a diferentes Estados ou de terem sido em diversas medidas intervencionados pelos respectivos Estados), os seguintes Bancos europeus:

#22 mundial, #1 da Belgica: Fortis
#62 mundial, #2 da Irlanda: Bank of Ireland
#82 mundial, #9 da Alemanha: Hypo Real Estate
#91 mundial, #3 da Irlanda: Anglo Irish Bank
#145 mundial, #8 do Reino Unido: Northern Rock
#216 mundial, #12 do Reino Unido: Bradford & Bingley
#232 mundial, #3 da Islândia: Glitnir

Para colocar em proporção, os 3 maiores Bancos de Portugal ocupavam as seguintes posições nesse top de 2007:

#128 mundial: Caixa Geral de Depósitos
#132 mundial: Banco Espírito Santo
#149 mundial: Millennium Bcp

É bem verdade que Portugal não sofre uma crise bancária desde 1980. E nem se espera que venha sofrer agora, dada a relativa insularidade do nosso sistema financeiro. Mas conhecemos bem o que se segue às nacionalizações de Bancos, nomeadamente:

- conservadorismo na gestão, em muitos casos levando à exaustão o conceito de gestão prudente, esquecendo a gestão sã;
- falta de inovação, por falta de incentivo;
- falta de motivação para a expansão, por falta de pressão accionista;
- em geral: mau serviço ao cliente e ao Estado dono.

Daí a pergunta que, visto da paisagem, se impõe colocar: que vai o mundo fazer com tantos Bancos intervencionados?

Se tudo correr mal, nada. Impõe-se o modelo socialista.

Se tudo correr bem, privatiza-os. Impõe-se o modelo social-democrata.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O triunfo da social-democracia

Quase 20 anos de predomínio global quasi-solitário dos Estados Unidos da América (EUA) exportaram para o mundo a ideia de liberalismo económico e capitalismo político (não, não é gralha). Até ontem, domingo 7 de Setembro de 2008. Dia em que a economia liberal se rendeu à necessidade de intervenção política do Estado para corrigir os erros e tolices dos mercados abandonados ao laissez faire.

Com a intervenção nos Bancos Fannie Mae e Freddie Mac (Ver, e.g., The Economist), os EUA nacionalizaram os prejuízos, para poderem continuar a deixar privados os lucros (tributáveis) e a iniciativa privada, numa economia não planificada, de consumo e mercados. Balanço que considero social-democrata.

Visto da paisagem, é o triunfo da social-democracia.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Jangada de Portugal

A "Jangada de Pedra" é uma conhecida obra literária escrita por José Saramago, escritor português, residente em Espanha, prémio Nobel de literatura. A ideia original é conhecida e, para o que aqui interessa, pode ser resumida assim: a península ibérica separa-se do resto da Europa, por meio de corte nos Pirinéus, rumando à América do Sul, qual jangada de pedra. A tese polítca subjacente é evidente. E ultrapassada. Embora com diversos fautores em Portugal, especialmente na capital, Lisboa - sabe-se lá porquê.

O governo espanhol é que, possivelmente inspirado nessa ideia, conseguiu criar uma "Jangada de Portugal", mantendo-nos desligados do resto da Europa por auto-estradas, nos pontos mais evidentes para quem, ido ou vindo do resto da Europa, pretende entrar ou sair de Portugal: o nordeste de Portugal.

O nordeste de Portugal continental tem belas e boas auto-estradas que... não o ligam à Espanha e, consequentemente, ao resto da Europa. É o caso da A7, em Chaves-Verin, no troço sugestivamente chamado, imemorialmente: "Feces de Abajo". E é o caso, também, e ainda mais inexplicavelmente, da A25 em Vilar Formoso: a E80, do lado de Portugal, tem auto-estrada até à fronteira; do lado de Espanha, existe auto-estrada até Ciudad Rodrigo - ficando o troço final para quem atravessa a Espanha, até Fuentes de Oñoro-Vilar Formoso, por cobrir em auto-estrada. É uma boa hora de viagem desconfortável e perigosa, por não mais de 60 quilómetros, que poderiam ser cobertos confortavelmente em não mais de 30 minutos se, ao contrário do que vem indicado nos mapas da Europa, a E80 estivesse completa.

O governo de Espanha não governa Portugal, fazendo a gestão dos seus recursos conforme lhe aprouver, com respeito pelos tratados e convénios internacionais, designadamente os que estabelecem as estradas europeias - para o que interessa, a E80, a E90 e a E01 (as únicas estradas europeias que atravessam Portugal, respectivamente pelas fronteiras de Vilar Formoso, Elvas e Vila Real de Santo António). Ver.

Quem governasse Portugal convenientemente deveria, por sua parte, negociar e, porventura, exigir pela competente via diplomática, que as auto-estradas do lado espanhol ligassem Portugal à Europa quando, como é o caso, já ligam Portugal a Espanha.

Visto da paisagem, parece que o Governo só se interessa com as ligações por auto-estrada a Lisboa (E80) e Algarve (E01), negligenciando as ligações pelo nordeste peninsular (E80 e A7). Tão mais lamentavelmente quanto, pela natureza das coisas geográficas, as auto-estradas do nordeste de Portugal são as utilizadas pelos milhares de emigrantes portugueses no norte da Europa (que veraneiam no norte de Portugal, de onde saíram no século passado, já então, em busca das oportunidades e condições de vida que não encontram na Paisagem nem na aspiradora Lisboa), pelos milhares de camiões que fazem transporte de mercadorias de e para o resto da Europa e, bem assim, pelos muitos turistas norte-europeus das tantas auto-caravanas que até foram notícia de más-vindas nos jornais durante este Verão de 2008...

Em que direcção irá a jangada de Portugal?

domingo, 31 de agosto de 2008

O Governo e a singularidade emergente

O Magalhães dos Descobrimentos deverá ter dado voltas no túmulo quando soube, em 21 de Agosto de 2008, que, afinal, a tecnologia da Intel que o Governo importou não é, sequer, de ponta.

O computador bacoco, assente em modelo de negócio terceiro-mundista, que o Governo, com pompa, apresenta como último grito tecnológico, é, já se sabia, apresentado pela própria Intel como... destinado aos "mercados emergentes" (Ver Classmate PC).

Sabe-se agora que, afinal, a tecnologia que um Governo eficiente terá de adquirir à Intel, se quiser gastar os recursos portugueses em real inovação, destinada ao desenvolvimento nacional, é a apresentada pela própria Intel, no seu Developer Forum, no dia 21 de Agosto de 2008: 1) Wireless Resonant Energy Link (WREL), 2) Programmable Matter (Computers that Change Shape), 3) To make robotics personal and more human-like. "Big changes are ahead in social interactions, robotics and improvements in computer's ability to sense the real world. Intel's research labs are already looking at human-machine interfaces and examining future implications to computing with some promising changes coming much sooner than expected... There is speculation that we may be approaching an inflection point where the rate of technology advancements is accelerating at an exponential rate, and machines could even overtake humans in their ability to reason, in the not so distant future" - Ver.

Visto da paisagem, parece que o Governo melhor faria em deixar as crianças emergentes na escola primária aprenderem a ler, escrever e contar pela sua própria cabeça. Para poderem, de futuro, vir a competir com a singularidade dos robôs emergentes - que, esses sim, poderão incorporar computadores Intel para trabalhar por Portugal.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Portugal e o proteccionismo

Novo fracasso na ronda Doha de conversações multilaterais no quadro da Organização Mundial do Comércio (OMC): em 29 de Julho de 2008, um pacote de desenvolvimento avaliado pela OMC em 130 bilhões de dólares/ano de poupanças em tarifas e consequente dinamização do comércio mundial, em benefício de todos, mas muito particularmente dos países menos desenvolvidos, foi recusado pelos países mais desenvolvidos (ver OMC).

Portugal e os demais países pequenos saem muito prejudicados desta deriva proteccionista nesta nossa nova era da já denominada crise dos três F: Fuel, Food, Financial crunch. Como é sabido, como País, dependemos do comércio internacional para nos sustentarmos em alimentação, energia e dinheiro (ver, e.g., citação de relatório de Julho de 2008 do FMI). O não avanço das reformas da OMC faz surgir proteccionismo onde as necessidades de desenvolvimento mundial pedem livre comércio, faz re-surgir bilateralismo em lugar de negociações multilaterais e, de extrema importância para nós, em lugar de coordenação global das negociações, trarão reforço do regionalismo, no sentido de blocos regionais de nível mundial; no nosso caso, o bloco regional constituído pela União Europeia (UE) - com a Alemanha a defender o proteccionismo industrial, a França a defender o proteccionismo agrícola e a Grã-Bretanha a defender a liberalização dos serviços.

O que é bom para o bloco regional UE não é necessariamente bom para Portugal. Visto da paisagem, parece impossível aceitar que, depois de a Comissão Europeia ter assumido uma posição proteccionista, o Governo português ainda reconheça os esforços que fez nesse sentido... ver Governo.

terça-feira, 29 de julho de 2008

O terceiro ciclo da língua portuguesa

A língua portuguesa entrou no seu terceiro ciclo, a que chamaremos da consolidação.

Ciclo que segue os dois iniciais, da formação e da expansão, melhor descritos por Ivo Castro na sua "Introdução à História do Português" (Citação).

Este terceiro ciclo, da consolidação, teve início no dia 25 de Julho de 2008, com a assinatura em... Lisboa da Declaração de... Lisboa, pelos governos de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Declaração mediante a qual estes oito países se comprometeram a defender e promover a língua portuguesa como “um patrimônio comum e um desafio global” (ver, e.g. Notícia).

Começa, feliz e finalmente começa, este novo ciclo da língua... Visto da Paisagem, parece que só de Lisboa.

domingo, 20 de julho de 2008

Portugal - Líbia

Sucessão extraordinária de eventos contraditórios:

13 de Julho de 2008 - é assinado, em Paris, o tratado multilateral denominado "União para o Mediterrâneo", com a presença de todos os países mediterrânicos, menos...a Líbia, mais... Portugal (país não mediterrânico, como é sabido, pelo menos visto da paisagem): um passo «absolutamente fundamental para um mundo de paz», segundo o Governo.

19 de Julho de 2008 - é assinado, em Tripoli, um tratado bilateral entre a Líbia e Portugal de protecção de investimentos - pelo menos assim foi anunciado (se bem que ainda não oficialmente tramitado) - ver, e.g., comunicado e assinaturas.

Apetece dizer, com o poeta:

"And the buildings fall
In a cloud of dust
And we ask ourselves
How could they hate us?
Well, when we live in ignorance and luxury
While our super powers practice
Puppet mastery

We raise the men
Who run the fascist states
And we sell them arms
So they maintain their place

We turn our backs
On the things they done
Their human rights record
And the guns they run

His world is suffering
Her world is suffering
Their world is suffering
World citizen".

Citado de David Sylvian: World citizen - I won't be disappointed

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Governo concessionário Renault Nissan

O Governo e a aliança Renault-Nissan assinaram um acordo, em Lisboa, a 9 de Julho de 2008. O acordo "destina-se à comercialização em Portugal de automóveis eléctricos, que serão lançados em larga escala em 2011, e à definição da respectiva rede de abastecimento", ver Governo.

No acordo não está previsto qualquer investimento por parte da aliança Renault-Nissan que, recorde-se, fabrica e vende automóveis - o investimento de um bilhão de euros e criação de 35.000 empregos não veio para Portugal, foi para Marrocos, em Setembro de 2007 (ver, e.g., Marrocos).

Valor acrescentado nacional com este acordo de 2008 entre Portugal e a Renault-Nissan: zero. Visto da paisagem, parece que o Governo se tornou um concessionário automóvel, comprometendo-se a vender aos portugueses automóveis eléctricos da Renault-Nissan. Como!?

A não ser que... a não ser que o acordo agora assinado implique a compra por parte do Estado de automóveis eléctricos para distribuir pelos funcionários públicos. Aí já se torna lógica e constitucional a assinatura do acordo: insere-se na lógica da despesa.

Na mesma lógica se compreende a autonomia de 160 km prevista pela própria Renault-Nissan para os automóveis eléctricos que o Governo pretenderá comprar para os funciónarios públicos: não se destinam a sair da capital.

sábado, 12 de julho de 2008

A paisagem e o dinheiro dos contribuintes

Até ao final do Verão, o Museu Colecção Berardo está apostar numa campanha de captação de turistas, subordinada ao conceito “Start Here”. (...)

A aposta na captação de turistas estrangeiros privilegiou os suportes de publicidade exterior existentes no Aeroporto de Lisboa. (...)

(...) O folheto destaca ainda a gratuitidade da entrada e oferece um brinde ao visitante que apresente o folheto junto da recepção do Museu.

(...)” In www.turisver.com, F.R., 10 de Julho de 2008

“ Agora, o Governo vai criar o passe escolar para todas as crianças e jovens entre os 4 e 18 anos que residam em centros urbanos. Em Lisboa, o apoio pode ser até 26 euros, no Porto a redução fica-se pelos 5 euros. Já nas restantes zonas, os transportes já são assegurados pelas autarquias para os alunos que vivam a mais de três quilómetros das escolas - o que fez com que a associação de municípios tivesse classificado a medida de discriminatória.” In Jornal de Notícias, Alexandra Inácio, 12 de Julho de 2008.

Visto da paisagem, só se pode perguntar: Quando é que o dinheiro dos contribuintes também chega à Paisagem?

 

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Quid custodit custodes?

Um jornalista sério, num jornal sério, anuncia que a Polícia Judiciária dispõe de um departamento secreto: "Polícia Judiciária tem uns serviços secretos dotados de meios tecnológicos altamente sofisticados, com sede num armazém na zona de Cascais. Esta força realiza escutas e vigilância à margem da lei. Há pessoas escutadas nos seus próprios gabinetes, sem serem suspeitas de crime", in Diário de Notícias, Licínio Lima, 9 de Julho de 2008.
É caso para perguntar, como já faziam os romanos, quem guarda a guarda?
Visto da paisagem, parece que já é tempo de repensar a questão das polícias (entes evidentemente administrativos e submetidos a controlo hierárquico), sobretudo as polícias políticas, como é o caso da Polícia Judiciária.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Energia positiva

"Peço-vos, para vosso bem e em benefício da segurança da nossa nação, que não façam viagens desnecessárias; quando tiverem necessidade de viajar usem transportes públicos ou partilhem transportes com outras pessoas; parem o vosso carro um dia extra por semana; cumpram os limites de velocidade... Cada acto de conservação de energia, como estes, é mais do que apenas bom senso; digo-vos, é um acto de patriotismo. Temos o hábito de pensar em conservação de energia em termos de sacrifício; na verdade, é o modo menos penoso e mais eficaz de combater a dependência energética do nosso país: cada litro de gasolina que cada um de nós poupa é uma nova forma de produção. Dá-nos, a cada um de nós, mais liberdade, mais confiança, mais controlo sobre as nossas próprias vidas. A solução da nossa crise energética poderá, por isso, ajudar-nos também a conquistar a solução para a crise de identidade nacional; poderá re-iluminar o sentido de unidade e confiança no futuro e, assim, dar à nossa nação, e a cada um de nós individualmente, uma nova finalidade".
Visto da paisagem, este discurso poderia ter sido proferido hoje, pelos bons governantes de uma nação cujo saldo negativo da balança de comércio resulta, há muitos anos, essencialmente das importações de petróleo.
Mas não foi.
Foi proferido há 29 anos, por Jimmy Carter - traduzido e adaptado do discurso sobre a crise energética quando Presidente dos Estados Unidos da América, 15 de Julho de 1979, audio in www.learnoutloud.com.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

O Mundo não é plano - outra vez

Bloomberg on The Economy, 26 de Junho de 2008. Tom Keene entrevista Nouriel Roubini, professor de Economia na Stern School of Business da New York Univesity, que diz, essencialmente:

1. Os Estados Unidos da América (EUA) já estão em recessão, em resultado da combinação da maior crise imobiliária dos últimos 50 anos, do crunch do crédito e da liquidez e do aumento dos preços do petróleo. Num número importante de outros países existem sinais significativos de abrandamento, se não mesmo de contracção económica, enquanto a inflacção sobe através do mundo; estamos num momento de estagflação light: o princípio da combinação entre inflação e estagnação, que leva a crescimento lento, mais desemprego e inevitável recessão. Os EUA estão em recessão; o Japão entrará proximamente em recessão; um bom terço da Europa entrará em recessão: o Reino Unido, a Espanha, Itália, Portugal...

2. A alta dos preços da energia implica o aumento do preço dos transportes, pelo que já não estamos no mundo plano de que falava Tom Friedman (no já clássico "O Mundo é Plano"). Em muitas dimensões, já estamos num mundo novo. O que tornou o mundo plano foi a cadeia global de fornecimentos. Essencialmente, tornou possível produzir um computador outsorcing a produção de componentes em 100 países diferentes e depois transportá-las para um local e montar as peças nesse local; agora, por causa de preços de transportes mais altos, as coisas passar-se-ão de modo diferente. O Governador do Alabama, por exemplo, já anunciou que está a receber muitas propostas de investimento; e, com ele, muita gente nos EUA pensa que esta alta do preço dos transportes é benéfica porque criará mais emprego doméstico, em detrimento do comércio global. O mesmo crescimento doméstico sucederá em países como a China (1,2 bilhões de pessoas) e na Índia (1 bilhão de pessoas). Isso levará tempo e o choque negativo ainda está para ocorrer.

3. Neste mundo novo a política monetária já não é tão eficaz, porque nasceu um sistema financeiro sombra, que não se baseia no sistema bancário e alargou os spreads interbancários. Hoje, existem toda uma nova série de instituições financeiras que se parecem com Bancos (altamente alavancados, financiam-se no curto prazo e emprestam para o longo prazo) e passaram a ter acesso à janela de liquidez que o Federal Reserve (FED) abriu; a transmissão da política monetária está mais dificultada. Inicialmente, o choque veio dos EUA mas agora transmitiu-se à Europa e o facto de o FED ter facilitado enquanto o Banco Central Europeu (ECB) não o fez, significa que agora há condições monetárias mais estritas na Europa, que levaram a uma escassez de dólares. Pelo que, paradoxalmente, o FED não apenas está a emprestar dinheiro a não-Bancos nos EUA, como também está a emprestar dólares a Bancos estrangeiros. Trata-se de uma enorme mudança na política monetária: os EUA passaram a ser o Banco central do mundo. Centenas de instituições financeiras irão à falência: os spreads deixarão de depender da falta de liquidez, passarão a depender do risco de contraparte, o risco País.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

A ERSE e o princípio do consumidor pagador

A ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos) publicou o seguinte Esclarecimento:
"Consulta Pública da proposta de revisão dos Regulamentos de Relações Comerciais e Tarifário da Electricidade - Período de Regulação 2009/2011. Face à notícia publicada, hoje, no Diário de Notícias com o título – “Clientes vão pagar dívidas incobráveis” - a ERSE esclarece o seguinte: Este tema é uma das várias questões em análise na Consulta Pública que a ERSE está a realizar, até ao dia 7 de Julho, sobre a revisão dos Regulamentos de Relações Comerciais e Tarifário da Electricidade. Sendo uma consulta pública não existe, ainda, nenhuma decisão da ERSE sobre os temas em análise. A Consulta Pública é um processo aberto e transparente em que são convidados a participar todos os actores relevantes para o sector eléctrico, entre outros, as associações de consumidores, entidades administrativas competentes, o Governo e as empresas reguladas. Foram ainda solicitados pareceres aos Conselhos Consultivo e Tarifário da ERSE. O processo de Consulta Pública termina com uma Audição Pública, a realizar no dia 18 de Julho, para a qual todas as entidades interessadas serão convidadas a participar na análise dos diversos temas em questão. Todos os contributos recebidos serão tomados em consideração pela ERSE na elaboração da versão final dos novos Regulamentos que deverão configurar alterações às actuais regras no sentido de reforço da salvaguarda dos interesses dos consumidores. Lisboa, 15 de Junho de 2008".
Não vem esclarecido, mas a audição pública (única) é em Lisboa - onde vivem cerca de um terço dos consumidores; os demais dois terços estão na paisagem, é certo, mas já terão sido ouvidos, ou dispensam audição pública?
Também não vem esclarecido, mas as associações de consumidores não são quem consome energia e paga as contas de electricidade pelos consumidores.
Visto da paisagem, significa que a ERSE vem esclarecer o em si mesmo incompreensível: que o regulador tenha sequer admitido a hipótese de que o consumidor pudesse querer aceitar pagar os consumos não pagos pelos demais.
Que outra atribuição fundamental poderá o regulador desempenhar senão a de velar pela defesa do mercado em termos de equidade?
Com reguladores destes (que presumem o consentimento dos consumidores por via regulamentar), haverá mercados?
Para já não mencionar a fácil impugnabilidade judicial do putativo regulamento.
A quem poderá interessar?

terça-feira, 1 de julho de 2008

Fragmentos da Europa de Lisboa

As agências internacionais anunciam que o presidente da Polónia não assinará o tratado europeu de Lisboa, afirmando que "não faz sentido", após a rejeição do texto em referendo na Irlanda. Sobre as vantagens da fragmentação europeia escreveu, em 1998, David S. Landes: “Ao descentralizar a autoridade, a Europa ficou a salvo de ser conquistada de um só golpe. No século XIII, os invasores mongóis provenientes da estepe asiática não tiveram muito trabalho para ocupar os reinos eslavo e khazar, pertencentes ao que hoje é a Rússia e a Ucrânia, mas tiveram ainda de abrir caminho através de uma série de estados centro-europeus, incluindo os novos reinos fundados pelos seus predecessores na invasão – os Polacos, os Lituanos, Germanos, Húngaros e Búlgaros -, antes mesmo de se defrontarem com os estados sucessores do Império Romano. (in “A Riqueza e a Pobreza das Nações”, Gradiva, Portugal, 1ª ed., 2001, pg.41).

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Portugal é uma Região

10.900 portugueses integram, no dia de hoje, o Linkedin. Diga-se que foi um crescimento espectacular: no mês passado, nem metade dos muitos e bons profissionais portugueses estavam activos. O Linkedin, a parte de contactos profissionais da Web 2, ou Web Social, trata Portugal como uma Região. Como não podia deixar de ser. Neste mundo globalizado não há cá Lisboa, nem Porto, nem Região Norte, nem mais micro-regiões e outras partições de dividir para reinar. Portugal é uma Região, aliás com aproximadamente a mesma população por território de outras Regiões Web como são a Bélgica, a Bielorússia, o Chade... E menos população por território do que outras Regiões Web como Nova York, Londres, Paris... A Região Linkedin não se chama Lisboa. Visto da paisagem, Portugal é uma lição.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Tratado de Lisboa

"Just bury it. It is time to accept that the Lisbon treaty is dead", The Economist, 16 de Junho de 2008. Impressionante fotografia de um pássaro morto na capa da revista e assinalável má utilização do nosso recurso Lisboa, por associação ao enterro. Se, como muitos sugeriram, o tratado se tivesse chamado de Sintra (como o de Nice, ou o de Maastricht) não teríamos metido todos os ovos no mesmo cesto. Luis Miguel Novais.